Fotografia: Sônia Furtado
Um rasgo de saudade...
Saudade das férias do tempo de criança...
Das sombras dos cajueiros...
Dos mangueirais...
Saudade do "pé de colorau"...
Onde a fantasia de mocinha se desdobrava...
No vermelho dos lábios... Das unhas...
Saudade do "imbuzeiro"...
Onde corríamos a sorrir brincando de pega-pega
E já cansados saboreávamos o fruto...
Tirado sem pressa.
O "quintal" era enorme...
De dia as brincadeiras da criançada
À noite o vovô contava estórias...
"Era uma vez..."
O Curupira... O lobisomem...
A caipora... A mula-sem-cabeça...
Era de arrepiar!
E a lua prateada e silenciosa no céu...
Parecia escutar e sorrir!
Saudades...
Do leite tirado na hora...
Do cheiro da terra molhada...
Do canto dos pássaros que como nós
Voavam para lá e para cá...
E pareciam dizer:
"Somos livres... A terra é nossa,
O tempo é nosso e ele também voa!
Então corram... Brinquem... Aproveitem!
Esse chão, esse ar, esse cheiro..."
Saudades...
Das brincadeiras de rua...
Da criançada a pular corda...
Dos casais de namorados a passear...
Das conversas nas calçadas...
Sem medo, sem receio...
Éramos todos donos da rua!
Ela era a nossa quadra
O nosso parque de diversões no dia-a-dia...
E não havia quem não se conhecesse!
As divergências eram resolvidas ali...
Nas brincadeiras e conversas "olho no olho"!
As rimas enriqueciam nosso vocabulário...
As cantigas de rodas musicalizavam nossa história
E tínhamos tempo para contar as estrêlas
Apreciar as "musicas de rádio"...
Brincar de "esconde-esconde"
De "Tô no poço. Água por onde?
Pelo pescoço. Quem lhe tira?
Meu bem. Quem é seu bem?..."
Saudades...
Da liberdade para estudar sem cobranças...
Do prazer de caminhar para a sala de aula
Do convívio dos colegas, das tagarelices,
Das idas à "sala do Diretor"...
De retornar no dia seguinte acompanhado...
Tudo era esclarecido, resolvido...
Estávamos prontos para outras descobertas!
Belas... Sutis... Marcantes...
E crescíamos com o senso de que:
Éramos responsáveis pelos atos praticados
Quer brincando, brigando, escutando ou respondendo.
Saudades...
E o mais gostoso da saudade...
É poder sentí-la, sorrir e prosseguir
Com a convicção que valeu a pena
E sempre valerá: VIVER!
Viver "em tempo" o tempo que Deus nos dá!
Liege Machado (10/08/07, às 24h08min)
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